Mais da metade dos cegos no mundo são mulheres

A Organização Mundial da Saúde (OMS) e a Agência Internacional para a Prevenção da Cegueira (IAPB - International Agency for Prevention of Blindness), responsáveis pela iniciativa, se apoiam em pesquisas internacionais para afirmar que dois terços dos cegos do mundo são mulheres e meninas.
 

“Entre os fatores sociais e culturais que colocam os olhos das mulheres em maior risco está o fato de que elas geralmente são responsáveis pelo cuidado com a saúde da família e por isso ficam mais expostas a doenças infecciosas"


Elas correm mais risco em qualquer idade, em qualquer parte do mundo. “Esses altos índices de cegueira e deficiência visual em mulheres podem ser explicados por três fatores: particularidades culturais, sociais e biológicas; maior expectativa de vida e baixo acesso aos serviços de saúde”, afirma a médica oftalmologista Denise Fornazari, integrante da comissão brasileira do programa Vision 2020, que luta pela erradicação da cegueira evitável até o ano 2020.

“Entre os fatores sociais e culturais que colocam os olhos das mulheres em maior risco está o fato de que elas geralmente são responsáveis pelo cuidado com a saúde da família e por isso ficam mais expostas a doenças infecciosas, como o tracoma por exemplo. Além disso, em alguns lugares, as mulheres não têm poder de decisão sobre medidas e gastos com a própria saúde, que fica nas mãos de filhos ou marido. Em geral, as necessidades femininas de cuidado ocular nem sempre são consideradas tão urgentes ou importantes quanto às dos membros homens da família”. explica Denise.

Biologicamente, também há indícios de que as mulheres têm mais chance de desenvolver doenças oculares. No caso da catarata, principal responsável pela cegueira evitável em países em desenvolvimento, elas apresentam uma incidência levemente maior da doença do que os homens. Suspeita-se que esse maior risco se deva a questões hormonais.




Os dados apontam a necessidade de iniciativas para promover mais saúde ocular entre as mulheres. Entre as medidas sugeridas estão a adoção de programas facilitadores do acesso de mulheres a serviços de saúde, a conscientização dos familiares sobre as necessidades delas e o estímulo às mulheres para que elas também se tornem tomadoras de decisão quando a questão é a própria saúde. “Mesmo os pesquisadores já estão sendo encorajados a separar os dados por sexo ao conduzirem e monitorarem suas pesquisas de saúde ocular”, afirma a oftalmologista.

Dicas para elas

Conheça as doenças mais comuns, as peculiaridades do universo visual feminino e veja os conselhos dos especialistas sobre como manter uma visão saudável por mais tempo.

- Olho Seco
A Síndrome do Olho Seco é a segunda causa de atendimento nos consultórios oftalmológicos e acomete mais mulheres do que homens. É um consenso entre os oftalmologistas que elas são mais suscetíveis em razão das variações hormonais que ocorrem principalmente após a menopausa. Há evidências de que a Síndrome do Olho Seco aconteça em situações de desequilíbrio do hormônio estrógeno. Na síndrome, ocorre uma diminuição da lágrima e uma frequente vermelhidão, sensação de areia nos olhos e desconforto agravado em ambientes em que há ar condicionado. 

“O olho seco pode ser controlado, mas é preciso procurar um oftalmologista e tratar inclusive as causas do problema. O uso de lágrimas artificiais é extremamente recomendado, especialmente em cidades como São Paulo, que é bastante poluída”, afirma o oftalmologista Vital Paulino Costa, professor livre-docente pela Universidade de São Paulo e chefe do setor de glaucoma da Unicamp.

"A Síndrome do Olho Seco é a segunda causa de atendimento nos consultórios oftalmológicos e acomete mais mulheres do que homens"


- Cuidado com colírios branqueadores

Não confunda os colírios que substituem as lágrimas com os vasoconstritores. “Os colírios que contêm vasoconstritores, drogas que contraem os vasos sanguíneos, não devem ser usados de forma rotineira. Eles deixam os olhos mais branquinhos na hora, mas isso acarreta o que a gente chama de “efeito rebote”, isto é, quando o olho volta ao normal, fica ainda mais vermelho. Além disso, tais colírios podem ocasionar alterações na pressão intraocular e resultar em doenças graves como o glaucoma, que pode levar à cegueira gradual e irreversível, se não for tratado. Então, para lubrificação, use lágrimas artificiais, que são confeccionadas à base de água, semelhantes à lágrima natural“, afirma o médico.

- Use as lentes de contato com cautela 

Uma pesquisa realizada pela Sociedade Brasileira de Lentes de Contato (SOBLEC) aponta que aproximadamente 54% dos 8,4 milhões de usuários de lentes de contato no Brasil são do sexo feminino. O alerta principal é quanto à higiene. “Ao serem retiradas dos olhos, as lentes devem ser limpas e desinfetadas, antes de serem guardadas no estojo. Hoje há soluções multi-propósito, ou seja, que servem ao mesmo tempo para limpar, enxaguar e desinfetar as lentes”, afirma a oftalmologista Cleusa Coral Ghanem, membro do Conselho Consultivo e Representante Internacional da SOBLEC. Soro fisiológico serve para limpar as lentes? Não! De acordo com a SOBLEC, o soro fisiológico não limpa nem tira os depósitos de proteína das lentes, deixando-as mais sujas, contaminadas e menos confortáveis, podendo inclusive causar reações.

O uso prolongado deve ser evitado. É sempre recomendável tirar as lentes de contato antes de dormir e, de quando em quando, dar um descanso para os olhos. “Eu costumo recomendar às minhas pacientes que têm uma festa ou um evento para ir durante a noite, por exemplo, que comecem a usar a lente em um horário mais tarde do que de costume, a fim de nunca ultrapassar as 12 ou 14 horas de utilização diária”, explica o médico oftalmologista Vital Paulino Costa.

- Ao computador

Existe uma posição ideal para harmonizar o monitor do computador e a saúde dos olhos. Essa posição é com a tela de 15 a 20 graus direcionada para baixo, que permite que o monitor fique um pouquinho abaixo da linha do olhar, nem na mesma linha nem acima. “Esse é o ajuste mais confortável para a cabeça e para o pescoço, e favorece o piscar e lubrificação dos olhos”, aconselha o oftalmologista.

- A Maquiagem 

Prefira cosméticos “hipoalergênicos”. Atualmente, também existem produtos especiais para usuárias de lentes de contato. Pincéis para rímel (máscara para cílios) ou delineador não devem ser emprestados. “Outra recomendação é evitar rímel à prova d’água e os destinados para alongamento dos cílios porque eles costumam conter nylon e fibras de rayon, que são secas e podem soltar-se, entrando nos olhos. Rímel RESISTENTE à água (não à prova d’água) é o mais recomendável porque, sendo solúvel em água, pode ser removido facilmente sem agentes emulsificadores”, afirma a médica. Segundo ela, os rímeis à prova d’água exigem demaquilantes bifásicos (água e óleo) para serem removidos e podem resultar em restos de produtos oleosos nas bordas das pálpebras mesmo após um bom enxágüe dos olhos. Para as usuárias de lentes de contato, os delineadores tipo lápis são melhores do que os líquidos ou pastosos. Atenção: não use saliva para lubrificar o pincel.

“Vale lembrar que a maquiagem deve ser adequadamente removida, porque a sua não remoção favorece inflamações nas bordas das pálpebras”, afirma Paulino. 

- Proteção contra os raios Ultra-Violeta

Há uma consciência hoje de que a radiação ultravioleta, que é prejudicial à pele, também provoca danos à visão. Há indícios de que uma série de doenças, como a catarata e a degeneração macular relacionada à idade, sejam agravadas pela radiação Ultra-Violeta. “Para combater isso, recomendo o uso de óculos escuros com proteção UVA e UVB sempre que se expuser ao sol”, afirma Paulino.






Principais doenças da visão

As doenças oculares que mais cegam indivíduos de ambos os sexos no mundo são: a degeneração macular, a catarata e o glaucoma. Todas essas enfermidades acometem principalmente pessoas com mais de 50 anos, mas também podem aparecer em outros momentos da vida. Saiba mais: 

Catarata

A catarata é a maior causa de cegueira reversível no mundo. De acordo com a Organização Mundial da Saúde, a doença é responsável por 48% dos casos de perda da visão, atingindo de 45 milhões de pessoas em todo mundo. Só no Brasil, estima-se que surjam 552 mil novos casos da doença todos os anos. A catarata se caracteriza pela opacificação do cristalino, que é a lente natural do olho. O tratamento é feito por meio da troca da lente opaca por uma nova lente e os procedimentos mais modernos já possibilitam o retorno ao trabalho em 24 horas, com recuperação total em cerca uma semana. 




Glaucoma

Apontada pela Organização Mundial da Saúde como a principal causa de cegueira irreversível, a doença atinge cerca de 70 milhões de pessoas em todo o mundo. Só no Brasil, segundo a Sociedade Brasileira de Glaucoma, 1 milhão de pessoas têm a doença, sendo que 635 mil são assintomáticos. O glaucoma se caracteriza por uma lesão no nervo óptico que limita progressivamente o campo de visão e é causado pelo aumento da pressão intraocular. “Embora não haja cura, é possível evitar a progressão da doença e a instalação da cegueira”, afirma o oftalmologista Vital Paulino Costa, chefe do Setor de Glaucoma da Unicamp. Os principais fatores de risco são: histórico familiar, pressão intraocular elevada, idade acima de 50 anos, diabetes mellitus, uso prolongado de corticóides, presença de lesões oculares e descendência negra. “Recomenda-se que pessoas que apresentam um ou mais desses fatores consultem um oftalmologista uma vez ao ano. As demais podem fazê-lo a cada dois anos, orienta Dr. Vital. 

No passado, a pressão intraocular era controlada basicamente com o uso de colírios que apresentavam alguns efeitos colaterais sistêmicos e exigiam de duas a três aplicações por dia. Na última década, o advento de colírios de prostaglandina no tratamento clínico do glaucoma foi um verdadeiro avanço, por serem mais seguros, eficazes e oferecerem maior comodidade posológica, pois podem ser aplicados apenas uma vez no dia. 

Degeneração Macular Relacionada à Idade (DMRI) 

É a principal causa de cegueira no mundo em faixas etárias superiores a 50 anos. A doença se caracteriza por uma lesão na mácula, área que nos permite enxergar detalhes finos com clareza. Afeta tanto a visão para longe quanto a visão para perto, podendo dificultar e até mesmo impedir a realização de algumas atividades. Ainda não existe uma cura definitiva para a degeneração macular, mas é possível recorrer a tratamentos que visam cessar ou retardar a progressão da doença.


Fonte: Portal da Oftalmologia

Editorial, 02.MARÇO.2015 | Postado em Notícias


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