Dra. Dayse Cury em entrevista sobre Saúde Ocular

Quando se deve levar a criança à primeira avaliação dos olhos? Nesta entrevista, a médica oftalmologista Dayse Oliveira, do corpo clínico do Hospital Humberto Castro Lima, recomenda que o exame deve ser realizado antes da alta da maternidade através do teste do olhinho. Depois, a cada seis meses nos dois primeiros anos de vida. A especialista afirma que cerca de 80% dos casos de perda de visão poderiam ser evitados se diagnosticados precocemente. No Brasil, de acordo com dados do Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO), cerca de um quinto das crianças em idade escolar apresenta algum tipo de deficiência visual e nem sempre os sintomas são logo identificados para o encaminhamento ao especialista, o que prejudica o rendimento na sala de aula.



- Quando deve ser feita a primeira consulta ao oftalmologista?
A Sociedade Brasileira de Oftalmologia Pediátrica (SBOP) recomenda que o primeiro exame oftalmológico deve ser realizado antes da alta da maternidade (teste do olhinho). Após o teste do olhinho, um exame oftalmológico completo deverá ser realizado a cada seis meses nos dois primeiros anos de vida. A partir dai, nas crianças normais, mesmo sem sintomatologia, deverá ser realizado um exame anual completo.

- O que o teste detecta?
O teste do olhinho é capaz de detectar entre outros problemas, catarata congênita, glaucoma congênito e retinoblastomas. É importante ficar atento a lacrimejamento constante, pálpebras inchadas, secreção purulenta, olho vermelho, desvio ocular, pupila esbranquiçada, assimetria de tamanho de globo ocular, intolerância á luz. Com o aparecimento de alguns dessas alterações, o bebê tem que ser encaminhado o mais breve possível para nova avaliação. O tratamento precoce dessas doenças podem salvar a visão e a vida da criança.

- Quais são os sinais indicadores de que a visão está atrapalhando o jovem de ter bom rendimento na escola e que deve ser levado a um especialista?
O desinteresse e baixo rendimento escolar pode estar relacionado ao problema de visão. Os pais e professores precisam ficar atentos aos principais sinais e sintomas que normalmente são dores de cabeça, olhos vermelhos, lacrimejamento, intolerância a luz (fotofobia), coceira, apertar os olhos para ver de longe, aproximar os objetos para leitura. Muitos jovens não conseguem avaliar que não estão enxergando bem, principalmente os de menor idade, cabendo ao exame oftalmológico um papel importante na detecção.

- Que doenças oculares são mais comuns entre crianças e adolescente?
Erros refrativos, como miopia, hipermetropia e astigmatismo. A miopia é a condição que os olhos podem ver os objetos que estão perto, mas tem dificuldade de visualizar os objetos que estão longe. A hipermetropia ocorre geralmente quando o olho é menor do que o normal, levando a uma dificuldade de focar os objetos próximos ao olho. O astigmatismo é causado por uma irregularidade na córnea, levando a visualização de imagens distorcidas.

- A ausência do diagnóstico pode acarretar em problemas mais graves?
Essas alterações oculares se não detectadas e tratadas podem levar a baixa de acuidade visual permanente, principalmente em crianças menores que ainda não desenvolveram a visão. Lembrando que as consultas têm que ser periódicas, pois essas afecções alteram com o crescimento.

- Estimativas apontam que dois em cada três casos de cegueira poderiam ser evitados caso houvesse o encaminhamento ao serviço especializado...
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS) 80% das causas de cegueira infantil são preveníveis ou tratáveis. A maioria das patologias oculares tem pouca sintomatologia ou são asssintomáticas nos seus estados iniciais, o que faz as pessoas darem pouca atenção, dificultando o diagnóstico precoce e, com isso, a obtenção de melhores resultados no tratamento. O exame oftalmológico é o instrumento mais importante para fazer o diagnóstico precoce das doenças, mesmo quando não há queixas específicas. Segundo a OMS, a baixa visão pode levar a um impacto na qualidade de vida dessas crianças com chances no atraso do desenvolvimento físico, neuropsicomotor, educacional e econômico.

- Quais são as causas mais comuns de cegueira?
Segundo o Manual de Diretrizes de Atenção á Saúde Ocular na Infância, realizado pelo Ministério da Saúde, 2013, as causas variam de acordo com o nível socio-econômico e as diferenças regionais. Em estudos realizados em três instituições das cidades de São Paulo e Salvador, publicados nos Arquivos Brasileiros de Oftalmologia, as causas mais frequentes de deficiência visual foram: glaucoma congênito, retinopatia da prematuridade, rubéola, catarata congênita e toxoplasmose congênita.

- Elas se manifestam já na infância?
Essas alterações podem se manifestar ao nascimento e muitas delas podem ser evitadas com um bom acompanhamento pré-natal, e se instaladas, o tratamento precoce pode contribuir para evitar a cegueira nessas crianças.

- A exposição excessiva ao Sol é prejudicial aos olhos?
Sim. Temos indícios que a exposição ao Sol durante a vida pode contribuir com doenças degenerativas nos olhos na velhice.

- O uso de óculos com filtros solares é recomendado para jovens?
O uso de óculos com filtros solares são recomendados. Precisamos lembrar que esses óculos precisam ser de boa qualidade, para não prejudicar a visão. Recomendamos a compra desses óculos em óticas especializadas.

- Uma criança pode ter catarata?
A catarata na criança é chamada catarata congênita, que pode ser diagnosticada no teste do olhinho. Tem que ser detectada precocemente, realizar o tratamento o mais rápido possível para não prejudicar a visão.

- E o glaucoma é comum naquela faixa etária?
O glaucoma mais comum acomete pessoas acima de 40 anos, mas o glaucoma congênito também pode ocorrer. Lembramos que o glaucoma é uma doença na maioria das vezes silenciosa, sem sintomatologia, e quando o paciente percebe já está em estado avançado, com perda visual irreversível, levando á cegueira.

- O estrabismo deve ser tratado a partir de que idade?
Logo que é diagnosticado tem que ser encaminhado para tratamento. Crianças estrábicas que não realizam tratamento especializado poderão ter baixa de visão permanente e irreversível. O tratamento quando realizado precocemente obtém melhores resultados evitando a baixa acuidade visual.

Editorial, 27.JULHO.2014 | Postado em Notícias


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